Noite de Maria


Auto retrato /
Maria, eu Maria...
Nunca desejei passar a noite perdida na esquina. Nem nunca quis ver vida passar por tardes frias e vadias.
Nem sair sem rumo, na sexta- feira vazia. Cruzar as ruas perder-se entre as bebidas e goles que se derramam no chão. Lágrimas escorridas, não mais escondidas e a insuficiência por se sentir só. Eu Maria, nunca quis perder a estribeira, nunca quis deixar levarem meu riso, e nem mesmo me jogar na escuridão.
Eu Maria, tudo bebi, nada fiz além de insistir, tudo bebi, nada quis além de ter a tua mão. 
Ficar na rua embaixo da chuva como uma puta pobre, e sozinha, Eu Maria, nunca quis.
Mas como tudo bebi, nada comi e só senti o vento a bagunçar os meus cabelos, em um pedido de apelo para ao menos poder te ver.
Eu Maria, quase vadia, sem noção naquele dia, recebendo beijos e aplausos que não eram para mim. Olhares que não pedi, abraços que não quis. Depois de a chuva maltratar meu rosto, e lavar meu corpo, esperei meia hora para ir embora. Nada eu quis,nem nada me quis ali naquela rua igual rato, igual a nada a escorrer pelo esgoto. Para saciar meu sufoco um mijo escorreu por entre as pernas. Fez eu me sentir um lixo. Perdendo o controle do corpo e das ideias, perdi minha linha e assumi minha culpa ,de tua vida invadir e me consumir de tanto medo.
Nesses últimos dias eu me deletei o máximo possível, tentei viajar para bem longe em meus pensamentos, mas nada consegui por estar muito próxima do meu descontrole. Tentei fingir ser forte. Não deu. Afoguei-me em prantos e desatinos, palavras presas na garganta, gritos mudos para me engasgar.
E, no entanto, só a tempestade noturna veio me fazer companhia.
Eu queria naquele instante virar uma gota daquela chuva... e perder-me sobre o teu ombro. Mas nada ...Eu sou Maria... que nunca quis perder-se na esquina.
Essa é a minha loucura, meu pior estágio do EU. Agora não mais com a pose comportada de outrora, essa é  minha loucura nua , molhada, mijada, jogada ao tempo e às feras do mundo.Essa é aminha loucura descabelada e bêbada. Essa é minha vergonha de não ter coragem de ficar frente a frente comigo mesmo. Essa é minha vergonha e minha fraqueza.
A minha vergonha...
A minha loucura...
A minha doença...

Cheilla Batista 

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